Tratamento com Ketamina: Uma Abordagem Revolucionária na Psiquiatria Moderna

Nos últimos anos, a ketamina emergiu como uma das terapias mais promissoras no tratamento de diversas condições psiquiátricas, especialmente na depressão resistente ao tratamento. Originalmente desenvolvida como um anestésico, a ketamina tem mostrado eficácia significativa em uma ampla gama de transtornos, desafiando os paradigmas tradicionais da psiquiatria. Este texto oferece uma análise detalhada do tratamento com ketamina, abordando desde sua situação normativa e regulamentação pela Anvisa até as formas de produção, apresentações disponíveis, compostos ativos, locais de compra e os argumentos científicos que sustentam seu uso para diferentes doenças. Além disso, discutiremos os mecanismos de ação da ketamina, com base em estudos recentes, e finalizaremos com uma mensagem positiva e encorajadora para aqueles que buscam novas alternativas de tratamento.

  1. Situação Normativa com Anvisa e Leis

No Brasil, a ketamina é regulamentada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) como um medicamento de controle especial, classificado na Lista C1 da Portaria SVS/MS nº 344 de 1998. Originalmente aprovada como anestésico, a ketamina tem sido utilizada off-label para o tratamento de depressão resistente ao tratamento (DRT) e outras condições psiquiátricas, uma prática que tem crescido com base em estudos científicos robustos que demonstram sua eficácia.

Em 2019, a Anvisa aprovou o uso do esketamina, um enantiómero da ketamina, para tratamento de depressão resistente, disponível na forma de spray nasal. O esketamina, comercializado sob o nome de Spravato, é administrado em clínicas especializadas sob supervisão médica rigorosa, uma vez que o medicamento requer monitoramento após a aplicação devido aos seus efeitos dissociativos.

No cenário internacional, a Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos também aprovou o uso do esketamina para depressão resistente ao tratamento, destacando a crescente aceitação da ketamina como uma ferramenta valiosa na psiquiatria.

  1. Forma de Produção da Ketamina

A ketamina é produzida por meio de síntese química em laboratório. Ela pertence a uma classe de compostos conhecidos como arilciclo-hexilaminas. A produção envolve várias etapas de síntese orgânica, resultando em uma mistura racêmica de dois isômeros, S-ketamina e R-ketamina, que possuem ligeiras diferenças em seus efeitos farmacológicos.

– Racêmica (R/S)-Ketamina: Esta é a forma tradicional da ketamina, contendo uma mistura dos dois isômeros em partes iguais. É a forma mais comum utilizada para anestesia e também para o tratamento de condições psiquiátricas.

– Esketamina (S-ketamina): Este é o enantiómero S da ketamina, que tem uma afinidade mais alta pelos receptores NMDA, sendo considerado mais potente do que a mistura racêmica. O esketamina é o componente ativo do medicamento Spravato.

  1. Formas de Apresentação e Compostos Ativos

A ketamina está disponível em várias formas de apresentação, cada uma adaptada a diferentes necessidades clínicas:

– Solução Injetável: A forma mais comum de ketamina, utilizada para anestesia e também para infusões intravenosas em tratamentos psiquiátricos. A dosagem e a administração são cuidadosamente controladas em um ambiente clínico.

– Spray Nasal: O esketamina está disponível na forma de spray nasal (Spravato), administrado sob supervisão médica em clínicas especializadas. Esta forma permite uma absorção rápida pelo corpo e é usada especificamente para tratar depressão resistente.

– Comprimidos Sublinguais: Embora menos comum, a ketamina também pode ser administrada na forma de comprimidos sublinguais, especialmente em contextos de tratamento crônico onde a infusão intravenosa não é viável.

Os principais compostos ativos são a ketamina racêmica e o esketamina, com o esketamina sendo preferido em alguns tratamentos devido à sua maior potência e eficácia.

  1. Locais de Compra e Principais Laboratórios

No Brasil, a compra de ketamina para uso clínico deve ser feita por profissionais de saúde e estabelecimentos devidamente autorizados pela Anvisa. A venda ao público em geral é proibida, e o uso é restrito a ambientes clínicos devido ao potencial de abuso e aos efeitos dissociativos da substância.

Principais Laboratórios:

– Janssen Pharmaceuticals: A divisão farmacêutica da Johnson & Johnson, Janssen, é responsável pela produção de Spravato (esketamina), o primeiro medicamento aprovado para depressão resistente ao tratamento que utiliza um enantiómero da ketamina.

– Pfizer: Um dos principais produtores de ketamina racêmica, utilizada tanto para anestesia quanto em tratamentos psiquiátricos.

– AbbVie: Também produz ketamina em várias formas para uso clínico, com foco na segurança e eficácia do tratamento.

  1. Argumentos a Favor do Uso da Ketamina para Diversas Doenças Psiquiátricas

A seguir, apresentamos uma análise detalhada dos benefícios do uso da ketamina em diversas condições psiquiátricas, respaldada por evidências científicas.

  1. Depressão Resistente ao Tratamento (DRT):

A ketamina tem sido amplamente estudada e utilizada para tratar a depressão resistente ao tratamento, uma condição na qual os pacientes não respondem a antidepressivos convencionais. Estudos mostram que a ketamina pode produzir uma rápida redução dos sintomas depressivos, muitas vezes dentro de horas após a administração. Um estudo publicado no American Journal of Psychiatry (Zarate et al., 2006) demonstrou que uma única infusão intravenosa de ketamina resultou em uma redução significativa dos sintomas de depressão em pacientes com DRT.

Referência: Zarate, C. A., Singh, J. B., Carlson, P. J., et al. (2006). A randomized trial of an N-methyl-D-aspartate antagonist in treatment-resistant major depression. American Journal of Psychiatry, 163(8), 1337-1339.

  1. Ansiedade:

A ketamina também tem mostrado eficácia no tratamento de transtornos de ansiedade, incluindo transtorno de ansiedade generalizada (TAG) e transtorno de pânico. Estudos sugerem que a ketamina pode ajudar a modular a resposta ao estresse e reduzir a hiperatividade em circuitos cerebrais relacionados à ansiedade. Em um estudo piloto publicado no Journal of Psychopharmacology (Glue et al., 2018), a ketamina foi associada a uma redução significativa nos sintomas de ansiedade em pacientes que não responderam a outras terapias.

Referência: Glue, P., Medlicott, N., Harland, S., et al. (2018). Ketamine’s dose-related effects on anxiety symptoms in patients with treatment refractory anxiety disorders. Journal of Psychopharmacology, 32(3), 330-336.

  1. Transtornos de Personalidade:

Embora as pesquisas sejam limitadas, a ketamina tem mostrado potencial em melhorar sintomas associados a transtornos de personalidade, como o transtorno de personalidade borderline. A capacidade da ketamina de proporcionar alívio rápido e profundo dos sintomas de humor e impulsividade a torna uma candidata promissora para o tratamento desses transtornos.

  1. Fibromialgia e Dor Crônica:

A ketamina é conhecida por suas propriedades analgésicas, sendo eficaz no tratamento da dor crônica, incluindo a fibromialgia. Sua ação nos receptores NMDA, que desempenham um papel crucial na sensibilização central e na percepção da dor, ajuda a reduzir a dor de forma significativa. Estudos como o publicado no Journal of Pain and Symptom Management (Noppers et al., 2011) mostram que a infusão de ketamina pode aliviar a dor em pacientes com fibromialgia e outras condições dolorosas crônicas.

Referência: Noppers, I., Niesters, M., Aarts, L. P., et al. (2011). Ketamine for the treatment of chronic non-cancer pain. Journal of Pain and Symptom Management, 41(2), 362-370.

  1. Insônia:

A ketamina tem mostrado efeitos promissores no tratamento da insônia, especialmente em pacientes com insônia associada a transtornos depressivos. Ao restaurar os ciclos normais de sono-vigília e melhorar a qualidade do sono, a ketamina pode ser uma opção útil para pacientes que sofrem de insônia resistente ao tratamento convencional.

  1. Transtorno Bipolar:

Em pacientes com transtorno bipolar, a ketamina tem sido estudada como um tratamento potencial para episódios depressivos, especialmente em casos onde outras terapias falharam. Um estudo publicado no Biological Psychiatry (Diazgranados et al., 2010) mostrou que a ketamina pode induzir uma rápida melhora dos sintomas depressivos em pacientes bipolares, mesmo na ausência de estabilizadores de humor.

Referência: Diazgranados, N., Ibrahim, L. A., Brutsche, N. E., et al. (2010). Rapid resolution of suicidal ideation after a single infusion of an N-methyl-D-aspartate antagonist in patients with treatment-resistant major depressive disorder. Biological Psychiatry, 67(4), 407-415.

  1. Esquizofrenia:

Embora o uso da ketamina na esquizofrenia seja controverso devido aos seus efeitos dissociativos, há interesse crescente em explorar seu potencial terapêutico para tratar sintomas específicos, como a anedonia e a depressão associada à esquizofrenia. Estudos preliminares sugerem que, em doses controladas e sob supervisão rigorosa, a ketamina pode ajudar a modular a atividade cerebral de maneira que alivie esses sintomas. No entanto, é necessário cautela, e mais pesquisas são necessárias para determinar sua segurança e eficácia nesse contexto.

  1. Transtornos Alimentares:

A ketamina também tem sido explorada como um tratamento potencial para transtornos alimentares, como a anorexia nervosa e a bulimia. Ao influenciar a neuroplasticidade e melhorar a regulação emocional, a ketamina pode ajudar a quebrar os ciclos de comportamento compulsivo e melhorar a autoimagem em pacientes com transtornos alimentares. Pesquisas estão em andamento para determinar sua eficácia e segurança nesse campo.

  1. Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC):

O TOC é uma condição psiquiátrica debilitante, e a ketamina tem sido estudada como uma opção de tratamento para pacientes que não respondem a terapias tradicionais. Estudos como o publicado no Journal of Clinical Psychiatry (Rodriguez et al., 2013) indicam que a ketamina pode oferecer alívio rápido e significativo dos sintomas de TOC, especialmente quando usada em conjunto com outras terapias.

Referência: Rodriguez, C. I., Kegeles, L. S., Levinson, A., et al. (2013). Randomized controlled crossover trial of ketamine in obsessive-compulsive disorder: Proof-of-concept. Journal of Clinical Psychiatry, 74(9), 877-883.

  1. Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT):

O TEPT é uma das condições para as quais a ketamina tem mostrado um grande potencial terapêutico. A ketamina pode ajudar a reduzir a intensidade dos sintomas de TEPT, como flashbacks e hipervigilância, oferecendo alívio quase imediato em alguns casos. Um estudo publicado no JAMA Psychiatry (Feder et al., 2014) demonstrou que a ketamina pode reduzir significativamente os sintomas de TEPT em pacientes resistentes a outros tratamentos.

Referência: Feder, A., Parides, M. K., Murrough, J. W., et al. (2014). Efficacy of intravenous ketamine for treatment of chronic posttraumatic stress disorder: A randomized clinical trial. JAMA Psychiatry, 71(6), 681-688.

  1. Burnout e Transtornos de Ajustamento:

O burnout e os transtornos de ajustamento são condições que podem ser difíceis de tratar com abordagens convencionais. A ketamina, com seus efeitos rápidos sobre o humor e a redução do estresse, pode ser uma opção valiosa para pacientes que enfrentam exaustão mental e emocional. Sua capacidade de restaurar a neuroplasticidade pode ajudar os pacientes a recuperar sua resiliência e a capacidade de lidar com situações estressantes.

  1. Transtornos Psicóticos:

A ketamina não é tradicionalmente usada para tratar transtornos psicóticos devido aos seus efeitos dissociativos, que podem exacerbar sintomas psicóticos. No entanto, pesquisas estão explorando seu uso em doses sub-anestésicas para tratar sintomas específicos, como a depressão ou a anedonia associadas a transtornos psicóticos, em um ambiente controlado.

  1. Dependências Químicas:

A ketamina tem mostrado grande potencial no tratamento de várias formas de dependência química, incluindo álcool, cocaína, e até mesmo tabaco. Estudos indicam que a ketamina pode ajudar a reduzir o desejo por substâncias e prevenir recaídas, modulando os circuitos de recompensa no cérebro. Um estudo publicado no American Journal of Psychiatry (Dakwar et al., 2014) destacou que a ketamina pode ser eficaz na redução do uso de cocaína em usuários crônicos, oferecendo uma nova abordagem para o tratamento de dependências difíceis de tratar.

Referência: Dakwar, E., Levin, F., Foltin, R. W., et al. (2014). The effects of subanesthetic ketamine infusions on motivation to quit and cue-induced craving in cocaine-dependent research volunteers. American Journal of Psychiatry, 171(11), 1263-1265.

  1. Teorias sobre Mecanismos de Ação da Ketamina

Os efeitos terapêuticos da ketamina, especialmente em condições psiquiátricas, são amplamente atribuídos à sua ação como antagonista do receptor N-metil-D-aspartato (NMDA). Esse bloqueio dos receptores NMDA modula a atividade do glutamato, um neurotransmissor excitatório que desempenha um papel crucial na neuroplasticidade e na formação de sinapses.

– Neuroplasticidade: A ketamina promove a neuroplasticidade, facilitando a formação de novas conexões sinápticas e ajudando a restaurar redes neurais disfuncionais. Este efeito é particularmente importante em condições como a depressão, onde a plasticidade neural é muitas vezes reduzida.

– Modulação do Glutamato: A ação da ketamina sobre os receptores NMDA leva a um aumento na liberação de glutamato em áreas específicas do cérebro, o que pode corrigir desequilíbrios na sinalização neural que contribuem para sintomas psiquiátricos.

– Redução da Inflamação: Estudos sugerem que a ketamina pode reduzir marcadores de inflamação no cérebro, que estão associados à depressão e outras condições psiquiátricas. A redução da inflamação pode melhorar a função cerebral e aliviar os sintomas.

– Alteração da Conectividade Cerebral: A ketamina tem sido mostrada para alterar temporariamente a conectividade entre diferentes regiões cerebrais, o que pode ajudar a “resetar” padrões de pensamento e comportamento disfuncionais, particularmente em condições como TOC e TEPT.

  1. Conclusão: Esperança e Novas Perspectivas com a Ketamina

A ketamina representa uma nova esperança para pacientes que lutam com condições psiquiátricas resistentes ao tratamento convencional. Seu perfil único de ação, aliado à capacidade de proporcionar alívio rápido dos sintomas, faz dela uma ferramenta valiosa na psiquiatria moderna. Apesar de ser uma intervenção poderosa, é crucial que o tratamento com ketamina seja realizado sob supervisão médica rigorosa, em ambientes clínicos apropriados, para garantir segurança e eficácia.

Se você ou alguém que você conhece está enfrentando desafios significativos com a depressão, ansiedade, dependência ou outras condições psiquiátricas, e busca novas alternativas de tratamento, a ketamina pode ser a resposta. Nosso consultório oferece um ambiente seguro e acolhedor, onde tratamentos inovadores como a ketamina são administrados por uma equipe experiente e dedicada ao bem-estar de cada paciente.

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